Game designer’s que nunca viram a luz do dia

Fiquei uma semana sem postar, estava viajando a trabalho e também para particpar de um programa de entrevistas na Univesp Tv, que logo deve ir ao ar. Falarei mais sobre essa entrevista quando o vídeo dela estiver disponível no youtube.

Porém hoje eu volto com um post curto, no estilo revolta. Eu sempre falo que hoje em dia o público jogador de videogame mudou muito, com cada vez mais mulheres, idosos, jogadores casuais etc. Recentemente falei sobre Lara Croft e sua evolução. Estudo os jogos enquanto ferramenta educacional, alardeio sobre sua capacidade narrativa.

Nesse meio tempo eu ouço uma piadinha ou outra e dos mais céticos eu sempre sou confrontado através de jogos com visuais e/ou enredos apelativos. E foi dessa forma que nessa semana eu conheci Dragons Crown. E que tristeza me deu ao ver aquilo.

O título da matéria da Kotaku americana para mim foi perfeito “Parem de contratar game designer’s de 16 anos para fazer jogos”, pois é exatamente isso que parece. Personagens forçados existem aos montes em diversos jogos por aí, mas nesse caso em especial o pessoal caprichou. Primeiro vamos dar uma conferida no vídeo.

Os personagens masculinos são monstruosos e devem possuir musculos que nenhuma disciplina de anatomia jamais estudou. A testosterona salta nas veias. Já as femininas, ah essas merecem um destaque ainda maior, sobretudo a sorceress. Pausem o vídeo com 52 segundos e entenderão o que estou dizendo. Peitos desproporcionais, que ficam saltando o tempo todo, um quadril imenso e com o cajado posicionado estrategicamente no meio das nádegas, para ser sútil e não falar na forma popular.

Não quero saber sobre a diversão do jogo, seu enredo ou seja láo que for. Parece que ainda temos produtores que nunca viram a luz do dia, que não tem contato algum com a sociedade, sobretudo com mulheres. Esse tipo de personagem monstruoso só me leva a crer que estas pessoas realizam suas fantasias sexuais através dos jogos.

A desculpinha de que se tratam de caricaturas ou que seria apenas uma forma cômica de apresentar o jogo não cola para mim. Fico muito triste com essas coisas e vejo que em determinados aspectos a mídia não evoluiu em nada. Fico mais triste ainda em ver nos comentários a quantidade de pessoas que não se incomodam com isso. Isso reflete bem a nossa sociedade atual, que continua machista, preconceituosa e intolerante.

Espero que exemplos assim sejam cada vez mais escassos e que os jogadores parem de comprar esse tipo de bobagem.

Gustavo Nogueira de Paula

5 comentários sobre “Game designer’s que nunca viram a luz do dia

  1. Thiago Moreira

    Não gostou não jogue. Mas encher o peito pra descer a lenha em um produto do engenho humano e ter a pachorra de não querer saber do que está falando (“Não quero saber sobre a diversão do jogo, seu enredo ou seja láo que for.”) é muito mais feio do que qualquer idealização ou caricatura do corpo humano.

    Aplicar a lógica de uma ideia (no caso salvo engano a feminista) como se fosse a única válida, com total indiferença para com as demais dimensões possíveis reflete bem o tipo eterno de obscurantismo e elogio a ignorância que matou Sócrates e que foi criticado na definição pessimista de ideologia que Hannah Arendt nos fornece em Origens do Totalitarismo.

    Eu gostaria de poder esperar “que exemplos assim sejam cada vez mais escassos”. Mas infelizmente não vejo sinal de que o poço de onde saem esses pequenos tiranos possa secar.

    1. Gustavo de Paula

      É isso que farei, não jogar. Não é questão de feminismo ou nenhuma outra corrente ideológica desse tipo, mas não tolerar mais esse tipo de coisa forçada que (ainda) assola os jogos de videogame. Até os campos de concentração foram obras de engenho humano e nem por isso sou obrigado a concordar com esse ponto de vista.

  2. Lucas Rosa

    Cara confesso que quando vi o jogo fiquei contente com mais um aparentemente inocente game de plataforma no estilo de Kinghts of the round do SNES, mas depois deste artigo tenho que admitir que a abordagem do blog me passou batida. Isso é uma pena, ainda mais por ser um profissional da educação e das ciências humanas….
    Quanto a este diálogo estabelecido nos comentários….gostaria de acrescentar uma coisa: qual é classificação indicativa do jogo?
    Se for recomendado para acima de 16 ou 18 anos acho que o problema é um pouco menor…isso porque idealmente pessoas desta faixa etária para cima deveriam ser capazes de criticar este ponto do jogo e curti-lo com alguma ressalvas ou levar apenas pelo lado caricato da coisa….
    Se ele for indicado para crianças acima de dez ou doze aí teremos uma ferramenta que ajuda a perpetuar estereótipos da década de 80……phn….mas aí abordaríamos um outro problema já discutido aqui no blog…
    Já mencionei a minha formação, vou gastá-la um pouco. Claro que o jogo é global (porque é assim que ele será consumido..), mas vale lembrar onde ele é produzido. Estes “exageros” são comuns em outras formas de mídia por lá….não são as características predominantes (Berserker, Ghost in the Shell e outros afirmam isso e aliás….são obras de arte que ajudaram a inspirar outras mídias fantásticas como Dark Souls e Matrix respectivamente!). Daí fica o detalhe: lá isso deve “passar” sem grandes problemas, mas aqui, é passível de uma maior crítica sim….

    1. Gustavo de Paula

      Bom comentário, mas vale lembrar que, por coincidência ou não, o Japão é um dos lugares em que menos se faz sexo no mundo entre pessoas casadas e ao mesmo tempo é um dos que mais registra casos de violência contra as mulheres entre os países desenvolvidos. Esses exageros já estão começando a passar dos limites. Mas o importante é debatermos e esse é o intuito do Blog!

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